A luta dos Gamela no Maranhão
Em 30 de abril de 2017, um confronto de fazendeiros com indígenas Gamela foi o ápice de uma disputa que já dura anos. Em lados opostos, ao menos dez pessoas ficaram feridas no conflito, que aconteceu no município de Viana, no Maranhão. Os Gamela ocuparam uma fazenda como parte do processo de retomadas de terras – como os indígenas definem a ocupação de territórios ancestrais retirados de seus parentes no passado.
Os Gamela eram considerados extintos pelo Estado Brasileiro. Mas, em 2014, um grupo fez uma Assembleia de Autodeclaração de pertencimento. Desde então, começaram a ocupar terras tradicionais da região dos municípios de Matinha, Penalva e Viana, na Baixada Maranhense.
“Eu nasci e me criei aqui. Esses meninos, que querem ser índios, não são índios. Agora inventam ser índios para tomar as propriedades da gente”, reclama o comerciante Mariano Borges, de 53 anos de idade.
Os Gamela receberam suas terras do Império Português nos tempos da colonização. Mas, nos anos 1970, os territórios começaram a ser tomados e registrados em nome de agricultores, de acordo com os indígenas, que sofreram outras violências. Antônio Carlos Ribeiro, da Aldeia Centro do Antero, lembra do que seu avô lhe contava: “Eles [os não-indígenas] encontravam [os Gamela] no caminho e diziam: ‘Tu é índio?’. E ele já sabia e dizia: ‘Não fala que tu é índio que tu vai morrer’. E morria mesmo.”
“O branco colonizou tanto que botou na cabeça do vizinho e do parente que o outro parente é o inimigo. Hoje a gente encontra muita dificuldade em tirar isso da cabeça do parente, mas aos poucos a gente tá conseguindo”, afirma Maria Akroá-Gamella, da Aldeia Nova Vila.
Reportagem feita em parceria com o El País Brasil.
Reportagem: Andressa Zumpano, Caio Castor, Ingrid Barros e Pedro Ribeiro Nogueira
Imagens: Andressa Zumpano, Caio Castor e Ingrid Barros
Edição: Caio Castor e Pedro Ribeiro Nogueira
Finalização: Pedro Ribeiro Nogueira